domingo, 30 de março de 2008
Texto 2 - Paxton (1)
Outro aspecto que o autor trabalha é o fato do projeto fascista ser um projeto de direita que supõe a mobilização das massas, o que é uma novidade. Na página 14 coloca: “Uma ditadura antiesquerdista cercada de entusiasmo popular - essa foi a combinação inesperada que os fascistas conseguiram criar num curto espaço de tempo de uma geração.” Paxton faz um panorama do fascismo, discursando sobre como ele surgiu e como se tornou ideologia para muitos países (ascendendo ao poder na Itália e na Alemanha), tomando forma própria em cada um deles.
O fascismo surgiu na Itália com Mussolini em 1919 (nesta ocasião denominado de “Fasci di Combattimento”) , reunindo um pequeno bando de ex-soldados nacionalistas e de revolucionários sindicalistas pró-guerra. O programa fascista era uma “mistura de patriotismo de veteranos e de experimento social radical, uma espécie de nacional-socialismo” (Paxton, 16). O movimento possuía um caráter expansionista visando os Bálcãs e o redor do Mediterrâneo e propunha o sufrágio feminino e o voto aos dezoito anos, a abolição da câmara alta, a convocação de uma assembléia constituinte para redigir a proposta de uma nova constituição italiana, a jornada de trabalho de oito horas, a participação dos trabalhadores na “administração técnica das fábricas” e a expropriação parcial de todos os tipos de riqueza por meio de uma tributação pesada e progressiva do capital, o confisco de certos bens da Igreja e de 85% dos lucros de guerra (Paxton, 17). Além disso, os primeiros movimentos fascistas possuíam verdadeiro desprezo pelos valores burgueses e pela acumulação individual e “exacerbada” de dinheiro (por isso também podemos entender o judeu usado como “bode expiatório” dos problemas da Alemanha, visto que esse povo tem uma tradição na acumulação de bens): “Atacavam o capitalismo financeiro internacional com quase a mesma veemência com que atacavam os socialistas. Chegaram a prometer expropriar os donos de lojas de departamento em favor de artesãos patrióticos, e os grandes proprietários de terras em favor dos camponeses” (Paxton, 25).
Aqui vale ressaltar o abismo entre discurso e ato, pois quando os partidos fascistas chegaram ao poder não se preocuparam tanto em cumprir as ameaças anticapitalistas, mas usaram de extrema violência contra o socialismo. “Ao tomar o poder, proibiram as greves, dissolveram os sindicatos independentes, reduziram o poder de compra dos salários dos trabalhadores e despejaram dinheiro nas industrias armamentistas para a imensa satisfação dos patrões. Diante desses conflitos entre palavras e atos, no que se referia ao capitalismo, os estudiosos chegaram a conclusões opostas. Alguns, tomando literalmente as palavras, consideram o fascismo uma forma radical de anticapitalismo. Outros, e não apenas os marxistas, adotam a posição diametralmente oposta, de que os fascistas vieram em socorro do capitalismo em apuros, dando sustentação, por meio de mediadas emergenciais, ao sistema vigente de distribuição da propriedade e de hierarquia social” (Paxton, 26).
O autor adota a posição de que “o que os fascistas fizeram é tão informativo quanto o que eles disseram”, considerando a retórica fascista seletiva e, de certa forma, interesseira, pois quando necessário o fascismo não deixou de estabelecer alianças com os conservadores nacionais contra a esquerda internacional ( o que vemos muito presente no fascismo é a idéia de “por um bem maior”). O fato é que o que o fascismo criticava não era a exploração do capitalismo, e sim seu materialismo e sua falta de patriotismo, seguindo apenas o que é interessante para o capital, não para a nação. Mais uma contradição fascista está presente quando pensamos na valorização do rural, do artesão, do camponês, dos primeiros movimentos e a pressa em se rearmar e em se lançar guerras expansionistas rapidamente (Paxton, 31).
A última parte do texto trata da importante imagem do líder, explicitando que o fascismo não se baseia num sistema filosófico complexo e ressaltando até uma falta de um projeto fascista doutrinário específico, afirmando que [o fascismo] “não repousava na verdade de sua doutrina, mas na união mística do líder com o destino histórico de seu povo”. Assim podemos visualizar a importância que o líder terá, mesmo existindo grandes diferenças e particularidades entre os fascismos de diferentes países.
domingo, 23 de março de 2008
Texto 1 - Silva
A defesa da tese do autor gira e torno da idéia de que o fascismo não faz parte de um “passado histórico”. Destaca, assim, sua contemporaneidade, mostrando a importância dessa visão para o historiador, visto que um especialista deste tema trabalhava-o de forma diferente no fim dos anos 40 e durante os anos 50.
Silva ressalta que o fascismo como “fenômeno de uma época” tornou-se uma interpretação obsoleta frente ao cenário político europeu dos anos 90, quando grupos neofascistas tomavam corpo considerável. Soma-se a isso a abertura e publicação de arquivos, até então ocultos, pós-segunda guerra mundial, por parte dos EUA, da Inglaterra, da Federação Russa e até da Gestapo (estes abertos após a queda do muro de Berlim, em 1989).
Com essa idéia em mente o autor constrói uma ponte entre o fascismo histórico e o neofascismo, ressaltando o quão falha é a visão de demonização da Alemanha quando se reduz o evento como exclusivo deste país, circunscrevendo o fascismo ao nazismo. A crítica do autor a essa visão pode ser considerada contundente, tendo em vista que o fascismo nasceu com Mussoline, na Itália, onde alcançou o poder em 1922, onze anos antes de Hitler se tornar führer. Além disso, há a visão historiográfica que não avalia a importância dos movimentos fascistas em outros países da Europa, como a Hungria ou Portugal, o que é criticado veementemente pelo autor. É percebendo que novos movimentos fascistas crescem na atualidade que o historiador se vê obrigado a criar uma nova metodologia para o estudo do fenômeno, o que ele faz baseando-se num método comparativo a partir da construção de um modelo e das realidades singulares de cada país, em cada época.