sábado, 3 de maio de 2008

Fichamento do filme Homo Sapiens 1900

O filme desenvolve a temática da eugenia no contexto do regime nazista alemão. Por “eugenia” entende-se o estudo das causas e condições que podem melhorar a raça. Desenvolvida no século XIX, essa ciência foi uma das vias que os alemães seguiram para a pretendida construção de uma sociedade de perfeitos, onde qualquer defeito, físico ou mental, era motivo de análise, com o resultado quase sempre comum de descartamento do indivíduo defeituoso.
A eugenia em si não deveria denotar algo tão negativo, isso porque ela não passa de um estudo para encontrar as condições favoráveis à reprodução humana, promovendo um melhoramento da raça. A questão é puramente moral, visto que a eugenia foi utilizada como instrumento de limpeza racial pelo fascismo e até pelo stalinismo, embora de maneira diferente: enquanto na Alemanha a preocupação era com a perfeição física e a beleza do homem ariano, na URSS buscava-se o homem idealizado através do cérebro e do intelecto. Estudou-se o cérebro de Lênin e de Tolstoi, por exemplo, para a construção do homem socialista perfeito.
A partir desse primeiro contato com as definições, passamos para uma nova etapa: a divisão entre eugenia positiva e negativa. A chamada eugenia positiva consistia em fazer com que as raças puras procriassem, enquanto a negativa preocupava-se em fazer com que os pobres ou incapacitados de alguma forma, não o fizessem. Exemplo de eugenia positiva mostrado no filme são as casas criadas pelos nazistas para abrigar mulheres que dariam à luz os homens perfeitos do Reich. O problema é que essas casas acabaram indo de encontro ao conceito de família que o Estado alemão vinha criando. De qualquer forma, a partir disso, podemos fazer uma conexão com a eliminação dos bebês deficientes e a esterilização em massa dos indivíduos considerados inaptos, fatos que ocorreram com um grau assustador de normalidade. A manipulação biológica tornou-se uma arma apontada para a sociedade e disparada contra aqueles que não se encaixavam no padrão racial imposto pelo regime.
Essa “moda” que começou na Suécia com um instituto sério para o estudo da eugenia, virou concurso para a escolha da criança mais perfeita e foi importada pelos EUA, onde eram promovidas campanhas para as próprias mães eliminarem seus filhos recém-nascidos deficientes. É importante ressaltar que, nos EUA, a esterilização em massa era legalizada. O simplismo e o progresso fizeram com que a eugenia regredisse nos Estados Unidos, mas na Alemanha de 1943, 400 mil são esterilizados e o “extermínio em massa” está em alta, com o crescimento da eugenia negativa, visto que os valores burgueses não aceitavam de bom grado aquelas tais “casas”. Com esse aprofundamento do uso da eugenia pelo regime nazista, Stalin acaba por abandonar e proibir essa ciência em seu território.
Assim, Peter Cohen traça uma crítica com documentos e imagens chocantes dessa “ciência maluca” que foi aderida por muitos em uma época em que a busca da perfeição física e/ou mental era absolutamente necessária para as ideologias. Mais uma vez presenciamos na história da humanidade que o homem é o único ser predador de si mesmo, num contexto social onde os fins quase sempre justificam os meios.


Bibliografia: Cohen, Peter, Homo Sapiens 1900.
www.terra.com.br/cinema/drama/sapiens.htm
www.frif.com/new99/homosapi.html

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